23/07/2011

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
(Hidelbrando Lino de Albuquerque)

Este texto foi produzido com a intenção de compartilhar o conhecimento obtido acerca do tema proposto por meio de leituras estudos e pesquisas em teóricos e estudiosos do assunto, como: Ana Teberosky, Emilia Ferreiro, Magda Soares, Paulo Freire, além das formações que tive o prazer de participar com os professores formadores do Programa de Formação de Professores Alfabetizadores – PROFA; Programa de Formação Continuada de Professores das Séries Iniciais do Ensino Fundamental – PRÓ-LETRAMENTO – Alfabetização e Linguagem; Programa Gestão da Aprendizagem Escolar – GESTAR II, entre outros. Vamos lá!
Há diferença entre ALFABETIZAÇÃO e LETRAMENTO? Os termos se aproximam ou se distanciam? Onde começa um e termina o outro? Ou os dois podem acontecer simultaneamente?
ALFABETIZAÇÃO: “um processo ativo por meio do qual a criança, desde seus primeiros contatos com a escrita, construiria e reconstruiria hipóteses sobre a natureza e o funcionamento da língua escrita, compreendida como um sistema de representação” (PRÓ-LETRAMENTO, 2006, Fascículo 1, p. 10).
Em linhas gerais, podemos considerar que a Alfabetização seria um aprendizado inicial da leitura e da escrita, da natureza e do funcionamento do sistema de escrita, segundo Emilia Ferreira e Ana Teberosky como um processo ativo por meio do qual a criança, não se limitaria apenas ao domínio de correspondência entre grafemas (letras ou grupos de letras: a, b, c, lh, rr, ss, entre outras) e fonemas (o som), mas como sendo o aprendizado que a criança alcança ao saber escrever reconhecendo as letras, grafar e reconhecer letras, usar o papel, entender a direcionalidade da escrita, pegar o lápis, codificar, estabelecer relações entre sons e letras, de fonemas e grafemas, percebendo unidades menores que compõem o sistema de escrita (palavras, sílabas, letras), resultante de uma interação entre o sujeito da aprendizagem e a língua escrita que ocorre desde o ambiente familiar da criança nos primeiros anos de idade até os outros espaços de aprendizagem (escola, comunidade). Nesse contexto, identificar os quatro níveis de evolução para a aquisição do sistema de escrita será fundamental para conhecer os caminhos que a criança percorre participando dessa construção. Trata-se, portanto de observar como ocorre a “Psicogênese da escrita” ou “Gênese da leitura e da escrita” apontados por Emilia Ferreiro e Ana Teberosky nos quatro níveis de evolução da escrita, a saber:

1. Nível pré-silábico
2. Nível silábico
3. Nível silábico-alfabético
4. Nível alfabético

No nível pré-silábico, conhecido inicialmente também pela “construção de garatujas”, a criança não diferencia o desenho da escrita, pois supõe escrever produzindo pseudoletras, números entre letras, para nomes diferentes letras diferentes. Observa-se a hipótese desse nível em dois eixos: quantitativo e qualitativo.

Eixo quantitativo (número de letras)

geladeira = NIO
sol = AOUP
Mar = TOSACBI

Eixo qualitativo = hipótese: realismo nominal: nome de pessoas, animais e coisas têm relação com seu tamanho.

Patinho = COB
Pato = FRSUAEI

O nível silábico corresponde ao nível das hipóteses onde a escrita representa pautas sonoras da fala por meio da qual o aprendiz consegue atribuir uma letra para cada sílaba.

Celular = ELT (silábico evoluído)
Alegria = ABRL (silábico evoluído)
Estrela = IAD (silábico evoluído)

Nível silábico-alfabético essas hipóteses evoluem como um progresso do nível silábico para um nível mais aproximado do alfabético.

Milho = IO
Sol = OU
Tijolo = IOO
Óculos = OQU
Caixa = CAIZIO
Mão = MANU

No Nível alfabético percebe-se a capacidade que o estudante possui em fazer convencionalmente uma análise dos fonemas que escreve, bem como, observar a partir daí, problemas relativos à ortografia.

Tartaruga = TARLARUGA
Sol = SOU
Chocolate = Xocolate

A leitura no livro “Psicogênese da Língua Escrita”, de Emilia Ferreiro, contribuiu muito para a compreensão desses níveis de aprendizagem.

LETRAMENTO: “o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever, bem como o resultado da ação de usar essas habilidades em práticas sociais, é o resultado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como conseqüência de ter-se apropriado da língua escrita e de ter-se inserido num mundo organizado diferentemente: a cultura escrita.” (PRÓ-LETRAMENTO, 2006, Fascículo 1, p. 11)
À medida que uma criança demonstra competência em saber ler um bilhete; reconhecer um produto num supermercado e sua função, bem como, a ampla autonomia dentro da sala de aula na qual o educando demonstra habilidade em realizar as atividades sugeridas pelo professor e ou pela professora, pode-se considerar que a criança está se inserindo nessa CULTURA ESCRITA, ou seja, no USO SOCIAL DA ESCRITA.
Nesse sentido, verificar o conhecimento prévio do aluno – em períodos pré-estabelecidos – será importante porque proporcionará ao estudante avançar na cultura escrita contribuindo para a sua formação contínua como sujeito de uma aprendizagem que não é estanque, e que a cada dia possibilitará novos desafios para os primeiros anos da Educação Fundamental, e o desenvolvimento de suas competências lingüísticas: Ler, Escrever, Falar, Ouvir.
Como se sabe, o desenvolvimento de tais competências lingüísticas em situações diferentes de aprendizagem não acontece apenas espontaneamente. Elas precisam ser ensinadas sistematicamente e isso ocorre, principalmente nos anos iniciais da Educação Fundamental, pois essas capacidades estão relacionadas à atuação dos estudantes no campo da leitura, da produção de textos escritos e da compreensão e produção de textos orais, em situações diferentes das que são corriqueiras no cotidiano da criança, tendo em vista que se essas capacidades não forem exploradas nos primeiros anos do Ensino Fundamental elas poderão desencadear problemas caracterizadores do fracasso escolar nas próximas séries.
Os eixos relevantes para a apropriação da língua escrita estão assim distribuídos:

• Compreensão e valorização da cultura escrita
• Apropriação do sistema de escrita
• Leitura
• Produção de textos escritos
• Desenvolvimento da oralidade

Compreensão e valorização da cultura escrita: corresponde ao conhecimento prévio que a criança possui à medida que sabe localizar (mesmo sem saber ler) prédios como: escola, supermercado, hospital, bancas, bares, etc.) e a partir dessas informações transformá-las em recursos de aprendizagem como eixo relevante.
Apropriação do sistema de escrita refere-se distinção entre letras e desenhos; letras e rabiscos; letras e números; letras e símbolos gráficos como setas, asteriscos, sinais matemáticos; fonemas, grafemas.
Leitura compreende-se pela forma como o estudante passa a utilizar bibliotecas para manuseio; dispor-se a ler os escritos que organizam o cotidiano da escola (cartazes, avisos, circulares, murais, livros, etc.)
Produção de textos escritos relaciona-se com a forma como o estudante passa a escrever segundo o princípio alfabético e as regras ortográficas, produzir cartas, bilhetes, revisar e reelaborar a própria escrita, etc.
Desenvolvimento da oralidade compreende o modo como o aprendiz passa a participar das interações cotidianas em sala de aula; saber escutar; responder questões propostas; expor opiniões; respeitar a diversidade das formas de expressão oral manifestas em sala de aula; planejar a fala em situações formais

Um livro que colaborou muito para a compreensão de como ocorre essa apropriação da língua escrita foi “Alfabetização e Letramento”, de Magda Soares.

OS ESPAÇOS DE APRENDIZAGEM

O espaço de aprendizagem é o ambiente alfabetizador, o local onde deve ser oportunizado o acesso ao conhecimento, a aprendizagem. Para tanto, é necessário que sejam utilizados todos os espaços disponíveis na Escola, não apenas se limitando a sala de aula, já que esta é a primeira que deve ser observada a partir da possibilidade de se desenvolver a competências lingüísticas, haja vista que, “Aquele professor ou professora que analisa sua classe, aprende a conhecer seus alunos, enxerga suas necessidades, busca atividades, ações, interferências para que os alunos avancem na qualidade do domínio do conhecimento escolar.” (PRÓ-LETRAMENTO, 2006, Fascículo 2, p. 24)
Para tanto, é necessário que a classe esteja devidamente organizada de maneira que os alunos possam ter acesso ao conhecimento que as competências lingüísticas oportunizam. Muitas vezes o estudante não compreende e ou valoriza sua cultura escrita, porque faltou ser elaborada com eles uma atividade significativa sobre os ambientes que os norteiam, tendo em vista que a apropriação do sistema de escrita não ocorre porque faltou visualizar pelo menos o sistema alfabético na sala onde eles estudam.
Na maioria das vezes os alunos não se sentem estimulados pela Leitura porque não existe um espaço/tempo destinado a esse fim em sala de aula. Há necessidade de se promover momentos de reflexão na sala para se aceitar o erro como possibilidade de acertos, principalmente no tocante a Produção de textos escritos por mais singelos que eles sejam; é necessário desenvolver a Oralidade do aluno valorizando sua realidade social, e a partir desse ponto oferecer outras formas de oralidade com vistas ao alcance da língua padrão, ampliando assim o conhecimento dos alunos.
Então, o desafio é possibilitar uma reflexão para agirmos sobre como deve estar organizada a nossa sala de aula? Bem sabemos que não existe uma resposta pronta e acabada, mas pensar sobre o cantinho da leitura, a existência do sistema alfabético, a presença de cartazes, a disposição das cadeiras em sala de aula, a limpeza do ambiente, o relacionamento entre professor x estudantes, e estudantes entre si nesses espaços de aprendizagem é muito importante porque em muito colaborará para que a criança se alfabetize letrando.
Visitar os outros espaços escolares para desenvolvimento das atividades planejadas ajudará o aluno a ampliar a concepção de que existem ambientes diversos onde se pode aprender, extrapolando sua significação além da sala de aula.
Uma leitura deleite, em ambientes diversificados (na sala, no cantinho da leitura, numa biblioteca, debaixo de uma árvore) pode se tornar mais significativa e estimuladora para os alunos do que realizá-la sempre em um único local. Os ambientes de aprendizagem devem proporcionar prazer para o educando favorecendo a legitimidade do LETRAMENTO.
Muitos são os espaços de aprendizagem. Entre eles, é possível citar:

Espaços internos:
• Sala de aula
• Cantinho da leitura
• Biblioteca

Espaços externos:
• Pátio da escola
• Debaixo de árvores
• Supermercados

Pelo que compartilhamos até o momento, percebemos que ALFABETIZAÇÃO e LETRAMENTO são processos diferentes, cada um com suas especificidades, mas complementares e inseparáveis, ambos indispensáveis.
Assim, não se trata de escolher entre alfabetizar ou letrar; trata-se de alfabetizar letrando e ou letrar alfabetizando. O nosso desafio é conciliar os dois processos visando um objetivo em comum: DESENVOLVER NO EDUCANDO HABILIDADES VOLTADAS A CONSTRUÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA, BEM COMO DA ORALIDADE E OUVIDA DO OUTRO ATRAVÉS DE ATIVIDADES AGRADÁVEIS, PRAZEROSAS E ESTIMULADORAS.
A título de sugestão, podemos melhorar ainda mais nossas práticas docentes, por meio de atividades que visem melhorar esse dialogo:

• Verificar o conhecimento prévio dos estudantes;
• Evitar apenas memorizar e ou reproduzir conceitos ou regras;
• Explorar os gêneros textuais;
• Estimular a leitura de formas variadas;
• Planejar aulas com habilidades específicas (leitura, oralidade, produção escrita, ouvir)
• Utilizar os recursos didático-pedagógicos disponíveis
• Transmitir segurança e afetividade para o aluno se sentir acolhido em sala
• Oportunizar ao aluno momentos para que ele expresse seu conhecimento em sala de aula demonstrando as competências lingüísticas

Explorar uma maior diversidade de gêneros textuais possível em sala, como forma de compartilhar produções escritas, impressas, digitalizadas capazes de transmitir informações. Entre eles:
• Bilhete
• Rótulo
• Notícia de jornal
• Horóscopo
• Folder
• Carta
• Etiqueta
• Capa de CD
• Papel de bombom / pirulito
• E-mail
• Capa de livro / revista

No que se refere à competência leitora, observa-se a necessidade de se trabalhar com vários tipos de leitura, entre eles:

• Individual em voz alta
• Individual silenciosa
• Grupal (estudantes)
• Coletiva (educador e estudantes)
• Sequenciada
• Alternada
• Comentada


De modo geral, nesse breve momento, conversamos sobre: Alfabetização, Níveis de evolução da escrita, Letramento, Competências lingüísticas, Eixos relevantes para apropriação da língua escrita, Espaços de aprendizagem, Tipos de leitura, Gêneros textuais, Sugestões. Assim, finalizo – por enquanto – nossa conversa lançando alguns questionamentos para refletirmos:

• Que novos caminhos e posturas para o trabalho na Alfabetização nós poderíamos adotar?
• Como podemos contribuir para que nossa aula se torne “diferente” a cada encontro?
• Como nós temos nos beneficiado do planejamento de nossas aulas para “fazer a diferença” com nossos educandos?
• Ao estudante basta estar Alfabetizado ou Letrado? Falta algo a mais nesse processo de aprendizagem?

Pense nisso! Um grande abraço.